Nestes primeiros anos do século XXI, a reputação de Winston Churchill está em
alta conta. Não sei efetivamente explicar por quê. Afinal, já se passaram quase
quarenta anos desde a sua morte e quase cinqüenta anos desde o fim da sua
carreira pública. Evidentemente a sua imagem se beneficiou vista em
perspectiva: Churchill se agiganta em contraste com as muitas mediocridades
que, desde a sua época, ocuparam a cena da política mundial ou por ela pa
ssaram efemeramente. Penso às vezes que existe um outro elemento. Mais de
uma década após o colapso da União Soviética, podemos ver que, entre os dois
colossais adversários do Ocidente durante o século XX, a União Soviética era
mais fraca e o Terceiro Reich de Hitler era mais forte do que as pessoas
costumavam pensar; e não foi Churchill quem, nos momentos mais dramáticos
da Segunda Guerra Mundial, fez frente a um Hitler que chegara muito perto de
vencê-la? (Mas, por outro lado, tal perspectiva só ocorreria àqueles que
sobreviveram à guerra ou que refletiram muito a esse respeito...) De qualquer
modo, mostras recentes de admiração por Churchill são com freqüência
surpreendentes. Depois que alguns árabes fanáticos lançaram aviões
seqüestrados contra as torres de Nova York, algumas pessoas evocaram o nome e
a coragem de Churchill durante a Blitz — mas a Blitz foi algo inteiramente
diferente. Tenho achado curiosas tanto quanto irritantes as recentes
apresentações de oradores em diversas reuniões da Sociedade Churchill, pessoas
que não faz muitos anos o depreciaram na imprensa e, igualmente, uma ou duas
que, em 1940, haviam sido opositoras inflexíveis a qualquer tipo de ajuda
americana à Grã-Bretanha, especialmente a uma Grã-Bretanha guiada por
Churchill, o fomentador de guerras. Houve uma interrupção na bibliografia a seu
respeito durante a década de 1980, em cujo final foram publicadas as primeiras
críticas maciças a Churchill feitas por alguns historiadores, mas a maré do seu
renome subiu novamente. Ainda no ano passado foram lançadas duas
importantes biografias de Churchill (ver o capítulo 8). Em janeiro de 2001,
igualmente, uma conferência no Instituto de Pesquisa Histórica, na Universidade
de Londres, foi intitulada “Churchill no século XXI”; os textos das
comunicações foram publicados em Ata da Real Sociedade Histórica, série 6,
vol. XI, no final do ano. Talvez seja significativo que, dentre os quinze
estudiosos e personalidades públicas que participaram, somente um historiador
fez críticas severas a Churchill.